quinta-feira, 19 de julho de 2012

O nome do dinheiro


Dinheiro é uma palavra sobejamente conhecida no mundo actual. Toda a gente sabe o que é o dinheiro e qual a sua importância nas sociedades capitalistas e consumistas actuais. Tempo é dinheiro e quando até o tempo é avaliado por este metal, nada mais é necessário acrescentar! Mas nem sempre foi assim. Houveram tempos em que não existia dinheiro! Estranho mas verdade. O Homem conseguia viver sem dinheiro. 
Inicialmente o comércio baseava-se na troca directa de bens, o escambo. 
O sistema de escambo visava suprir as necessidades, sem comparação de valores materiais.O que era era excedente para uns era trocado pelo que sobrava a outros, sem haver avaliação do mercadoria transaccionada. A necessidade  ditava a troca. Esta forma de comércio elementar foi dominante nas primeiras civilizações e ainda hoje é utilizada nas tribos mais isoladas. Hoje as crianças   ainda utilizam este tipo de comércio, trocando brinquedos, cromos e revistas entre elas, sem recorrer a valores monetários. No entanto algumas mercadorias começaram a ter mais procura do que outras, passando assim a ter mais valor para a troca. O factor valor introduziu-se no comércio de bens e alterou todo o sistema até então utilizado. Surgiram assim as moedas-mercadoria: os metais, as cabeças de gado e o sal foram as primeiras moedas-mercadoria conhecidas, e as duas últimas deixaram uma marca permanente no vocabulário comercial que chegou até nós. Pecus, a palavra latina para gado deu origem às palavras pecúnia, que significa dinheiro, e pecúlio que é o dinheiro acumulado; Capita que significa cabeça, originou a palavra sobejamente conhecida capital (património); a palavra salário provém do facto de na antiga Roma o sal ser utilizado para pagar serviços prestados. A valorização cada vez maior dos metais, fez com que se começasse a utilizar pequenos objectos de metal como instrumentos valiosos de troca. No século VII aC surgem na Lídia, cidade-estado da Ásia Menor, as primeiras moedas semelhantes às actuais: pequenas peças em metal, com peso e valor determinado e com cunho oficial como garante do seu valor. O local onde se cunhavam as moedas na Roma Antiga, situava-se junto ao templo da Deusa Juno Moneta, e encontrava-se sob a sua protecção. Em sua homenagem os discos redondos de metal aí produzidos chamaram-se monetas, que deu origem à palavra moeda. A passagem de uma economia de troca para uma economia monetária transformou progressivamente as actividades e comportamentos humanos (A Enciclopédia, volume 14, Verbo-Jornal Público). Nada voltou a ser igual e aos poucos o valor da moeda foi ganhando terreno e controlando todo a economia e todas as transacções. Todas as sociedades, independentemente da sua origem, começaram a cunhar as suas próprias moedas e a utilizá-las como base para todas as trocas comerciais. 
O reino de Portugal, reconhecido por bula papal de Alexandre III em 1179, teve como primeiras moedas cunhadas por Afonso Henriques, o Dinheiro (acredita-se que a origem da palavra dinheiro actualmente utilizada deriva do nome desta moeda)  e a Mealha (que deu origem à palavra mealheiro) que valia 1/2 Dinheiro. Doze moedas de dinheiro valiam um soldo (antiga moeda romana) e vinte soldos equivaliam a uma libra romana (unidade monetária baseada na prata, que valia originalmente 0,33kg de prata). Foram cunhadas ainda algumas moedas de ouro, os Morabitinos que no reinado de D.Sancho I valiam 180 dinheiros. O dinheiro foi utilizado no reino de Portugal desde o século XII até perto de 1430, altura em que D. Duarte o substituiu definitivamente pela moeda de nome Real. Os reais começaram a ser introduzidos por D.Fernando I em 1380, como uma moeda de prata que valia 120 dinheiros; no reinado de D.João I foram cunhados duas moedas de Real: o real branco que correspondia a 840 dinheiros (3 libras e meia) e o real preto que apenas valia um décimo do branco.

Mas foi com D.Duarte que a moeda real se tornou na unidade base de Portugal. O real, no plural reais, que se popularizou rapidamente como réis, foi a moeda utilizada oficialmente em Portugal desde 1430 até 1911, tendo sido também utilizada em todas as colónias portuguesas. 
Em 1847 o Banco de Portugal emitiu as primeiras notas e foi criado o sistema decimal para denominar as moedas de réis. O padrão monetário base instituído era de 1000 réis (mil-réis); um milhão de réis passou a ser designado por um conto de réis.


Em 1911, com a implantação da Republica, o real foi substituído pelo escudo,  cujo símbolo era o $. No entanto a designação de conto de réis sobreviveu à introdução da nova moeda, sendo sinónimo de mil escudos. A moeda escudo foi a unidade monetária de Portugal até ao ano de 2002, quando foi substituída pela moeda europeia de nome euro. Um euro equivale a 200,482 escudos e é actualmente a moeda oficial da Republica Portuguesa, sendo usada por todos os países pertencentes à Comunidade Europeia, que adoptaram a moeda única. 
Os anos passaram, o nome das moedas mudou. Mas o certo é que os nomes das diferentes unidades monetárias que Portugal teve, mantêm-se na memória dos portugueses. Ainda me lembro de ouvir a minha avô dizer aos clientes da sua mercearia que determinada mercadoria custava cem mil réis ou que outra tinha o valor de um conto de réis. Eu própria dou por mim a passar os euros para escudos, penso em escudos e ainda acrescento os contos na minha contabilidade mental. A nossa memória é uma artimanha fantástica e mesmo com todas as mudanças que surgem à nossa volta, mantemos bem guardadas as nossas recordações cheias de história. Um cacique (chefe indígena americano) quando foi questionado sobre se não sentia necessidade de possuir dinheiro para manter a sobrevivência da sua tribo respondeu: A natureza não vai fugir. Ela alimentou o avô do meu avô e o meu pai e irá alimentar o meu filho e o filho do meu filho. Não necessitamos de acumular coisas. Porque é que fazem isso? Não lhe sei responder...

Nota: As fotografias utilizadas foram retiradas de www.forum-numismatica.com e www.numisgaia.com

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